'Cometi um erro e vou pagar', diz professor indiciado por vazar Enem

"Cometi um erro e vou pagar." Foi assim que o professor da cidade de Remanso, na Bahia, confirmou, nesta quinta-feira (25), sua participação no vazamento de informações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 7 de novembro, segundo dia de prova. Muito nervoso, o educador usou um capacete para evitar ser identificado ao sair da escola em que trabalha e entrar em sua casa, em frente ao colégio.

Desde que foram indiciados pela Polícia Federal, ele, a mulher, também professora, e os três filhos evitam sair de casa e se mostram muito abalados. Enquanto o professor falou rapidamente com a reportagem do G1 em um corredor lateral do terreno da casa, a mulher dele gritou, de dentro do imóvel: "Vocês já sabem de tudo". O filho do casal, que foi eliminado do Enem após os pais lhe passarem informações sobre a redação da prova, saiu nervoso e afirmou ao pai, aos gritos, “você não tem que falar nada”. O rapaz teve de ser acalmado pelo pai.

Fiscal do Enem, a professora confessou à PF que viu um dos textos de apoio da redação, que falava sobre escravidão, ligou para o marido e contou o que viu. Ele fez pesquisas na internet sobre o assunto e passou informações ao garoto, que fez a prova em Petrolina (PE), que fica a 200 quilômetros de Remanso. O caso foi denunciado por um professor, que foi questionado pelo estudante sobre como escrever sobre o assunto.

Na casa dos professores, nesta quinta-feira, um familiar, que não se identificou, disse à reportagem que a prova estava sobre uma mesa em um local em que qualquer pessoa poderia ver.

Antonio Fernandes Lima, diretor do Colégio Ruy Barbosa, em Remanso, onde a professora trabalha e foi fiscal do Enem, negou que a prova tenha ficado à mostra. "Um modelo da prova foi mostrado pela coordenação do exame para instruir os fiscais. Ninguém mais teve a ideia de fazer uma coisa dessas", afirmou.

Segundo o diretor, o Enem foi aplicado com segurança na escola. “O que ocorreu foi uma fraqueza dela”, disse. Na escola, funcionários e alunos evitam falar sobre o assunto. “É uma situação delicada", afirmou Fernandes.

O diretor, que é pastor evangélico, disse que visitou o casal nesta quarta-feira (24). “Eles choraram muito e reconheceram que pecaram diante de Deus e da sociedade. Eles estão com o coração aberto.” De acordo com o diretor, a professora chora o tempo todo. “Ela está com o estado emocional abalado. Certamente vai precisar de acompanhamento”, disse.
Já no Colégio Estadual Reitor Edgard Santos, onde o professor dá aulas de química e física, alguns estudantes fizeram críticas ao professor. “Ele vivia falando que a gente não podia colar, que tinha que fazer tudo direito e aí faz uma coisa dessas”, disse uma estudante do primeiro ano do ensino médio, mostrando decepção com a atitude do educador. A diretora da escola não quis falar com a reportagem.

Sigilo
Em nota divulgada nesta quarta-feira (24), o MEC informou que o caso apurado pela PF é restrito a um estudante que já foi eliminado. O ministério disse que o sigilo do tema da redação foi mantido, uma vez que a professora indiciada repassou o tema "O que é Trabalho Escravo", sendo que o cobrado foi  "O Trabalho na Construção da Dignidade Humana."

O MEC manteve para o dia 15 de dezembro a aplicação do Enem somente para os estudantes que tiveram problemas com as provas amarelas registrados em ata pelos fiscais. Até esta terça-feira (23), 2.817 alunos haviam sido identificados nesta situação.

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