Ação de varredura na Rocinha não tem data para terminar

O trabalho de varredura nas comunidades da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, na Zona Sul do Rio de Janeiro, à procura de traficantes, drogas e armas, não tem data para terminar. Segundo o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, por se tratar de uma área muito grande, ainda há muitos pontos a serem vasculhados. Por isso, a polícia quer contar com a ajuda dos moradores.

De acordo com investigações da polícia, mesmo depois da prisão de Antonio Bonfim Lopes, o Nem, apontado como chefe do tráfico na Rocinha, ainda poderiam estar escondidos na Rocinha quase 200 bandidos.

Mas para onde teriam ido todos eles? "É no mínimo temerário dizer que não tem mais ninguém naquele lugar. E o objetivo da polícia estar num lugar desse de uma forma maciça é exatamente no sentido de identificar estas pessoas ou qualquer outro equipamento criminoso que eles, por ventura, eles possam ter”, disse Beltrame.

Durante o primeiro dia de ocupação nas comunidades da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, a polícia prendeu quatro pessoas, apreendeu 20 pistolas, 15 fuzis, duas espingardas e uma submetralhadora, além de 20 rojões e três granadas, segundo balanço da operação Choque de Paz, que visa instalar uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na região.

Um homem foi preso na noite deste domingo (13) suspeito de tentar subornar policiais civis durante uma revista em uma residência na Rocinha, na Zona Sul do Rio. Ainda de acordo com a polícia, ao ser perguntado sobre celulares encontrados com mensagens de pedidos de entrega de drogas, o suspeito ofereceu R$ 3 mil para tentar subornar os policiais.

As buscas foram suspensas assim que escureceu, mas os trabalhos de varredura serão retomados na manhã desta segunda-feira. Policiais continuarão a circular nas comunidades durante toda a noite e madrugada.

Na primeira noite após a ocupação das forças de segurança, o clima é de aparente tranquilidade na Rocinha. Apesar da presença da policia, os moradores mantém a rotina e ocupam as ruas da comunidade.

Armas e ossadas
Foram localizados também 112 quilos de maconha, 80 tabletes de maconha, 60 quilos de pasta base de cocaína, 145 trouxinhas de maconha e 14 tabletes de cocaína, além de máquinas caça-níqueis, bombas artesanais, uma farda do Exército e uma camisa da Polícia Civil.

Parte do armamento encontrado estava enterrada em uma viela da Rocinha. Em dois dos fuzis, o desenho de um coelho, apelido do traficante preso dias antes tentando fugir da favela. Anderson Mendonça foi preso com outros quatro comparsas, na última quarta-feira (9). Eles estavam sendo escoltados por policiais civis, um ex-policial militar e um PM reformado, que também foram capturados.

PMs e policiais federais acharam com a ajuda de cães farejadores ossadas enterradas no alto da favela do Vidigal. Eles receberam informações de moradores.

Favelas tomadas após 2 horas e sem disparos
A retomada das favelas pelas forças de segurança começou por volta de 4h. A ação durou 2 horas e não houve troca de tiros. A megaoperação reúniu 3 mil homens das polícias Civil, Militar, Federal e Rodoviária Federal, além de 194 fuzileiros navais, 18 veículos blindados, 4 helicópteros da PM e 3 da Polícia Civil. Os helicópteros jogaram panfletos com números de telefones para denúncias.

O Batalhão de Operações Especiais (Bope) estudou durante vários dias os detalhes do terreno a ser reconquistado, numa estratégia para evitar vítimas e para agir a qualquer ação dos traficantes. O apareato reúnia três tipos de blindados da Marinha: o Clamf, o maior e mais pesado, com 23 toneladas; o M113, menor e mais ágil; e o Piranha, que anda sobre rodas.

Cerca de 300 homens do Bope entraram na Rocinha por seis acessos importantes da comunidade: Via Ápia, Terreirão, Roupa Suja, Estrada da Gávea, Laboriaux e Um Nove Nove, além de dezenas de pontos na mata. As favelas do Vidigal e Chácara do Céu foram retomadas por 800 policiais do Batalhão de Choque. Depois, foi a vez das outras forças de segurança entrarem em ação.

Outros 1,3 mil homens se espalharam por toda a cidade. Foram montados bloqueios nas principais saídas do Rio. O comando da operação não permitiu que os policiais usassem mochilas no interior das favelas, em uma tentativa de impedir saques aos moradores como houve no Complexo do Alemão.

Na Rocinha, homens do Bope usaram um trator para recolher motos roubadas que tinham sido abandonadas na rua. No Vidigal, colchões queimados e óleo jogado na pista, além de lixo e uma televisão, foram alguns dos obstáculos usados por criminosos para tentar impedir a retomada do território.

Às 6h08min, pouco mais de duas horas depois do início da operação, segundo a Secretaria de Segurança, o território de 840 mil m2 da Rocinha e os 70 mil moradores estavam livres do domínio dos traficantes.

No início da tarde, as bandeiras do Brasil e do estado do Rio de Janeiro eram hasteadas nas favelas do Vidigal e da Rocinha para oficializar a retomada do território. No Vidigal, a informação é de que 160 homens do Batalhão de Choque vão permanecer na comunidade até que a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) seja implantada.

O secretário de Segurança disse que a partir de agora é o estado que controla uma área dominada ha décadas pelo crime organizado." O dia de hoje iniciamos a segunda fase de um trabalho que começou no inicio deste mês", disse. "Esse trabalho começou e não tem data para encerrar. É a libertação do jugo do fuzil", completou.

O governador Sérgio Cabral comemorou o resultado da operação. “Hoje é um dia histórico de mais um capítulo na paz do Rio de Janeiro”, disse. “Graças a unidade, a união das forças públicas que trabalharam por um bem comum", completou.

A polícia pede ainda que a população continue colaborando, dando informações sobre criminosos, armas e drogas escondidos nas favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu. "Denunciem e ajudem. A população pode ligar para o Disque-Denúncia (2253-1177) ou para o 190 para nos ajudar a localizar criminosos, armas e drogas. Permaneceremos nas comunidades por tempo indeterminado", frisou o chefe de Estado Maior Operacional da Polícia Militar.
 
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/11/acao-de-varredura-na-rocinha-nao-tem-data-para-terminar.html

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