China já está a comprar dívida

A China já está a comprar dívida pública portuguesa desde o primeiro semestre deste ano, quando a pressão dos mercados financeiros fez disparar a taxa de juro sobre os títulos emitidos por Portugal. Ontem, a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros do ‘Império do Oriente’, Fu Ying, manifestou a disponibilidade do seu governo para adquirir dívida pública portuguesa, e abre a porta ao reforço do financiamento da China a Portugal. 

Com reservas financeiras bastante elevadas, a China quer diversificar a sua carteira de investimentos. E é no âmbito desta estratégia, aliada à necessidade de reunir apoios internacionais para a defesa dos seus interesses, que o ‘Império do Oriente' estará a olhar para a dívida dos países do Sul da Europa como uma oportunidade.
Para já, garante fonte conhecedora do mercado, "os chineses já compraram dívida pública portuguesa e já participaram em leilões [de Obrigações do Tesouro e Bilhetes do Tesouro]". E isso "foi ainda no primeiro semestre de 2010", diz.
Como o investimento chinês em dívida pública portuguesa tem sido feito através do mercado secundário, que funciona como a Bolsa, não é possível saber em que montante a China já financiou o Estado português. Certo, frisa a mesma fonte, é que "a China é um investidor sofisticado: dá as suas ordens aos bancos e estes concretizam as ordens em função dos preços".
O Ministério das Finanças diz que, "a confirmar-se o interesse de instituições chinesas relativamente à nossa dívida, constata-se que a estratégia do Governo está a ser bem-sucedida, reforçando igualmente a confiança da China na economia portuguesa". O presidente da China, Hu Jintao, visita Portugal em Novembro. 

PATRÕES PEDEM ORÇAMENTO
As confederações da Agricultura, Comércio, Indústria e Turismo manifestam preocupação e defendem que este não é o Orçamento de que o País precisa para iniciar a recuperação, mas consideram que seria dramático não haver um Orçamento para o próximo ano.
Em comunicado conjunto, os patrões lembram ainda que nem os mercados financeiros nem os parceiros da União Europeia entenderiam que Portugal não conseguisse aprovar um Orçamento que credibilizasse os compromissos de redução do défice. 

TAXA SOCIAL ÚNICA PODE DAR ACORDO
A redução da taxa social única para as empresas poderá ser a chave para um acordo entre o Governo e o PSD para o Orçamento do Estado para 2011. O caminho para o entendimento entre as duas partes poderá mesmo ter sido iniciado ontem à noite em Bruxelas, onde José Sócrates e Pedro Passos Coelho passaram o dia.
O PSD apresentou uma proposta para a redução de 0,25 por cento na taxa social única, mas o Governo, apesar de Teixeira dos Santos reconhecer a importância da medida, não cedeu. Para já, o acordo está à distância de 450 milhões de euros.
Ontem, após vários ministros terem dado a entender que estava em curso uma iniciativa para o entendimento, o primeiro-ministro disse que o Governo "vai fazer mais um esforço" para viabilizar o Orçamento. Ao final do dia, o secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, admitiu que o partido "não deixará de analisar e ponderar o que o Governo vier a apresentar". 

"ESTAMOS DE JOELHOS PERANTE O BCE"
António Borges, actual director do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Europa, não podia ter sido mais duro: "Estamos de joelhos perante o Banco Central Europeu (BCE), esperando que não altere a sua política que nos permite ir vivendo", afirmou o economista numa conferência sobre a reforma do sistema financeiro, em Lisboa.
António Borges não tem dúvidas de que "o défice público é apenas a ponta do iceberg" e sublinha que, neste momento, "está totalmente cortado o financiamento externo". "Estamos fora do mercado, a única excepção é o BCE."
O antigo vice-presidente da Goldman Sachs lembrou também que a actividade bancária "vai ficar muito mais cara em Portugal, devido aos nossos problemas de financiamento".

"POUPANÇA FICA MAIS MAGRA"
Paula Ferreira, de 35 anos, residente em Sines e mãe da pequena Leonor, de quatro anos, não esconde a revolta que sente ao saber que, a partir de 1 de Novembro, vai deixar de receber os 25 euros mensais do apoio do Estado. "Não compreendo estes políticos, mas a minha filha vai continuar a comer, mesmo sem ajuda", disse. O rendimento do casal ronda os dois mil euros mensais e desde o nascimento de Leonor que os abonos "vão para uma poupança que agora ficará mais magra". "Quase compensa viver do rendimento mínimo, porque só assim nos dão tudo", remata.

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