Estudantes protestam contra ameaça de fechamento de curso da USP Leste

Dezenas de estudantes do curso de obstetrícia da USP Leste se reuniram com parteiras, mães e ONGs no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), às 10 horas deste sábado (26). Com cartazes e um abaixo-assinado, os manifestantes pretendem impedir a extinção dessa faculdade, que pode se fundir à de enfermagem da USP e ter o próximo vestibular cancelado.
Obstetrícia USP (Foto: Luna D'Alama/G1)Dezenas de alunos do curso de obstetrícia da USP se reuniram no vão livre do Masp (Foto: Luna D'Alama/G1)
Segundo a coordenadora do curso, Nádia Narchi, os professores e alunos são contra essa mudança, porque, apesar de profissões “irmãs”, as duas áreas representam paradigmas profissionais diferentes. “Se a gente for diluído na enfermagem, não vamos construir um campo de conhecimento próprio. Não aceitamos essa proposta e queremos que a USP compreenda a importância social e acadêmica da nossa profissão.”

Nádia disse, ainda, que a USP está se dobrando ao Conselho Federal de Enfermagem, que tem dificultado o registro de obstetrizes formadas. “Há duas saídas possíveis: a reformulação curricular ou a contestação judicial, mas a USP optou pela saída covarde, de atender ao conselho”, afirmou a coordenadora.

Atualmente, o curso de obstetrícia da USP Leste, que pertence à Escola de Artes, Ciências e Humanidades, tem cinco turmas de 60 alunos cada e duas já formadas. A graduação tem uma duração de quatro anos e meio e, em 1974, já sofreu com a extinção e a fusão à enfermagem – ressurgindo em 2005. A estudante Jéssica Nascimento, também do terceiro ano, afirmou que a universidade quer reduzir 330 das 1.020 existentes no campus. “O curso de enfermagem não tem estrutura para não abrigar”, avaliou.
Obstetrícia USP 300 (Foto: Luna D'Alama/G1) 
Manifestante assina abaixo-assinado em defesa do curso (Foto: Luna D'Alama/G1)
"Nossa faculdade surgiu como um pedido de movimentos sociais para atender à demanda brasileira de partos normais e reduzir o número de cesarianas”, disse a aluna Flávia Estevan, do terceiro ano.

De acordo com ela, o objetivo é acabar com a “fábrica de cesáreas”, já que 90% dos partos na rede privada do país e 50% do Sistema Único de Saúde (SUS) são desse tipo, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda no máximo 15% desses partos nos dois sistemas juntos. “Hoje o médico é o protagonista e a mulher passa por uma cirurgia. Gravidez não é doença”, destacou Flávia.

A enfermeira obstetra Vilma Nishi, que atua há 35 anos com partos humanizados e já fez mais de 700 em residências, acha que enfermeiros e obstetrizes devem unir forças, porque a figura mais importante dessa história é a mulher. “Nunca vi a USP fechar um curso”, lamentou.

Segundo a administradora Priscila Ariani, mãe de Francisco, de 3 anos e meio, e Arthur, de 9 meses (o primeiro nasceu de cesariana e a segunda, de parto normal, em casa), a cesárea é uma invasão e uma falta de respeito com o momento mais especial na vida de uma mulher. “O médico vem com um suposto saber, o bebê é retirado de você, encosta no seu colo por 2 minutos e depois precisamos nos recuperar da anestesia”, disse. Ela acredita que o médico entende o parto como um procedimento cirúrgico, não como o nascimento do seu filho.

Em comunicado, a direção da universidade diz que “a avaliação permanente da graduação e a revisão dos cursos da EACH é absolutamente natural, indo de encontro às demandas sociais, científicas e tecnológicas da sociedade”. “A principal preocupação é com os egressos e com os alunos que estão cursando Obstetrícia. Se for necessária outra reformulação do curso, ela será feita”, afirmou Telma Zorn, pró-reitora de graduação.

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