Saída de Marta abre caminho para disputa só entre “novatos" em São Paulo

Na última quinta-feira (3), a senadora Marta Suplicy (PT-SP) desistiu de disputar as prévias dentro do partido para ser escolhida candidata à Prefeitura de São Paulo. Para quem se acostumou a ver a ex-prefeita no páreo na última década, o cenário de 2012 pode causar estranheza. A perspectiva é que a corrida seja dominada por “novatos” ou políticos de menor calibre eleitoral.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou seu apoio à pré-candidatura do atual ministro da Educação, Fernando Haddad, que nunca disputou eleições. Na avaliação dos especialistas, a saída de Marta afasta ainda mais a possibilidade de o ex-governador e ex-presidenciável José Serra (PSDB) entrar na disputa, já que a tendência é de que os tucanos também busquem “sangue novo” para concorrer à Prefeitura.

Pelo PSDB, estão no páreo, entre outros, o ex-deputado Bruno Covas e o senador José Aníbal. O PMDB deve apostar no deputado federal Gabriel Chalita; e o PSD, no ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Outro nome é o do ex-deputado Celso Russomanno (PRB), que já disputou eleições para o governo de São Paulo.

Segundo Aldo Fornazieri, cientista político e diretor acadêmico da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), isso é positivo em vários aspectos tanto para os eleitores, que querem renovação, quanto para os partidos, que buscam novas lideranças.

Antônio Augusto Queiroz, analista político, diretor de Documentação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), avalia que os grandes partidos devem optar por candidatos “novatos” porque, embora sejam menos conhecidos do público, eles também têm menos rejeição que “velhos caciques”.

- Os partidos hoje se baseiam em dados, em pesquisas, para escolher seus candidatos. E o aspecto do índice de rejeição tem sido determinante para essa escolha.

Apesar de ter se saído bem nas últimas pesquisas (chegando a 29% das intenções de votos), Marta Suplicy tem rejeição de 30%.
Riscos do PT

Francisco Ferraz, cientista político da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), avalia que a remoção de Marta do páreo cria uma situação delicada no PT. Um partido que tinha a característica de ser tomar decisões coletivamente vive agora uma nova fase.

- Hoje o PT é um partido ‘monárquico’, tem um ‘monarca’, que é o Lula. Ele decide tudo.

Para Ferraz, o desânimo da militância petista e da própria Marta Suplicy pode ser um obstáculo importante, mas o ex-presidente está disposto a assumir os riscos.

- Ao escolher Haddad, Lula não está apostando que ele vai ganhar essa eleição. O ex-presidente está posicionando um novo ‘player’ [figura] político da parte do PT. Evidentemente, mesmo que Haddad não ganhe, vai ter uma votação expressiva e vai constituir uma nova liderança política em São Paulo.


O cientista político da Fesp avalia a influência de Lula nas eleições irá favorecer o candidato do PT, mas não deve ser decisiva para sua eventual vitória. Segundo ele, São Paulo tem uma característica peculiar: caciques nacionais nem sempre emplacam candidatos locais.

A doença de Lula

A descoberta de que Lula tem um câncer na laringe provocou discussões em torno dos possíveis impactos políticos do fato. Para Aldo Queiroz, do Diap, a doença aumenta sim a empatia e sensibilização da militância petista, que deve se empenhar ainda mais para eleger o candidato escolhido por ele.

- O fato de ele estar doente aumenta muito essa influência, porque ninguém quer recusar um pedido seu, em um momento que ele está convalescente.

Já para Fornazieri, a situação de Lula não deve aumentar ou diminuir seu poder de emplacar um candidato desconhecido. Isso porque, como a expectativa dos médicos é que o ex-presidente seja curado ainda no primeiro semestre de 2012, o câncer de laringe não deve afastá-lo da campanha, nem ser usado para causar empatia sobre os eleitores e aliados políticos.

- Essa saída da Marta mesmo não teve nada a ver com a doença. Isso já estava acertado antes. O Lula já havia pedido, a Dilma [Rousseff] iria pedir e ela teria de desistir de qualquer forma. [...] Ele tem uma influência inegável dentro do partido, isso independentemente da doença.

*Colaborou Amanda Polato, do R7

Fonte: http://noticias.r7.com/brasil/noticias/saida-de-marta-abre-caminho-para-disputa-so-entre-novatos-em-sao-paulo-20111105.html

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